Ao iniciarmos a Semana Santa, a chamada outrora «semana maior», associamo-nos a uma multidão que, em êxtase, acolhe o Senhor Jesus na sua entrada em Jerusalém...
Multidão que O saúda, de palmas nas mãos, mas que não compreende a sua verdadeira realeza, ao gritar efusivamente: «Bendito o Rei que vem em nome do Senhor!»... Multidão que se deixa embalar por correntes contrárias, que «tanto» parece esperar da vinda do Senhor, se olharmos apenas para esta entrada «triunfal», mas fecha o coração na hora de acolher a novidade do Filho de Deus que vem dar a Sua vida por todos os homens e participa na Sua condenação ao gritar também efusivamente: «Crucifica-O! Crucifica-O!»...
O silêncio de um Rei, primeiro saudado e logo depois condenado, silêncio de humildade e de entrega total, que podemos acompanhar na leitura da Paixão segundo o evangelista Lucas, silêncio de certezas até nas poucas palavras proferidas, nas quais se reconhece primeiro como o Filho de Deus, perante os judeus, e depois como o Rei dos judeus, perante Pilatos, ou mesmo nas atitudes de perdão e total abandono nas mãos do Pai, na Cruz, intriga-nos... Inquieta-nos tal silêncio, perante a capacidade humana de tanto discutir e falar, ainda que por vezes sem grande sentido... Interpela-nos a falarmos com a convicção de actos concretos, de gestos generosos em que as palavras se tornam vida e cheias de significado, e não nos longos e ocos discursos em que humildade e entrega parecem ser esvaziadas de sentido e inadequadas, pela antiguidade e exclusão de uma «moda» mais interesseira ditada pela actualidade...
O mundo quer ouvir apenas os «mestres», os grandes doutores e «fulanos de tal», quando Aquele que apresenta «as costas àqueles que me batiam e a face aos que me arrancavam a barba», Aquele que «assumindo a condição de servo... humilhou-se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz», nos lembra que as suas palavras são mais plenas e cheias de salvação, porque o Senhor Deus lhe «deu a graça de falar como um discípulo, para que saiba dizer uma palavra de alento aos que andam abatidos»...
Aprendamos a escutar bem a linguagem da Cruz, da entrega total no Amor, aprendendo de Jesus a também dizer sempre com verdade: «todavia, não se faça a minha vontade, mas a tua»...
Ajuda para esta semana: meditar verdadeiramente o relato da Paixão no evangelho de São Lucas... E procurar pequenos, mas verdadeiros gestos de humildade no dia-a-dia...
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