I. Prelúdio
Iniciaríamos esta reflexão, colocando-nos diante das realidades que nos propomos abordar: as que estão contidas na nossa fé.
Se alguém nos perguntasse em que acreditamos, como cristãos que fé professamos, qual seria a nossa resposta? Por certo, após um natural embaraço inicial, de certo nos lembraríamos de duas ou três «respostas fáceis», que talvez fizessem entender o nosso interlocutor de que este é um assunto a não ser continuado… Os mais afoitos, talvez se lembrassem de «papaguear» o credo, oração que «cantamos» de vez em quando, ainda que nem sempre se perceba o que se está a dizer…
Mas, vamos imaginar que somos nós mesmos os interlocutores desta inesperada conversa… Vamos falar connosco próprios sobre a nossa fé, sobre tudo aquilo que dizemos acreditar… E aqui, sem respostas fáceis, partamos do princípio de que há muito a descobrir, muito a reflectir, muito mais a aprofundar…
E, para uma primeira reflexão introdutória, partilhamos trechos deste texto do Papa Bento XVI, de Novembro de 2007, sobre a esperança cristã, dando uma luz mais forte, primeiro sobre estes tempos que tantos dizem «sem esperança», depois sobre esta mesma caminhada de descoberta a que nos propomos…
« SPE SALVI facti sumus » – é na esperança que fomos salvos: diz São Paulo aos Romanos e a nós também (Rm 8,24). A « redenção », a salvação, segundo a fé cristã, não é um simples dado de facto. A redenção é-nos oferecida no sentido que nos foi dada a esperança, uma esperança fidedigna, graças à qual podemos enfrentar o nosso tempo presente: o presente, ainda que custoso, pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros desta meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho. E imediatamente se levanta a questão: mas de que género é uma tal esperança para poder justificar a afirmação segundo a qual a partir dela, e simplesmente porque ela existe, nós fomos redimidos? E de que tipo de certeza se trata?A fé é esperança
Antes de nos debruçarmos sobre estas questões, hoje particularmente sentidas, devemos escutar com um pouco mais de atenção o testemunho da Bíblia sobre a esperança. Esta é, de facto, uma palavra central da fé bíblica, a ponto de, em várias passagens, ser possível intercambiar os termos « fé » e « esperança ». Assim, a Carta aos Hebreus liga estreitamente a « plenitude da fé » (10,22) com a « imutável profissão da esperança » (10,23). De igual modo, quando a Primeira Carta de Pedro exorta os cristãos a estarem sempre prontos a responder a propósito do logos – o sentido e a razão – da sua esperança (3,15), « esperança » equivale a « fé ». Quão determinante se revelasse para a consciência dos primeiros cristãos o facto de terem recebido o dom de uma esperança fidedigna, manifesta-se também nos textos onde se compara a existência cristã com a vida anterior à fé ou com a situação dos adeptos de outras religiões. Paulo lembra aos Efésios que, antes do seu encontro com Cristo, estavam « sem esperança e sem Deus no mundo » (Ef 2,12).
E eu, como me posiciono perante o mundo?
Com esperança?
Sabendo qual a meta?
Reconhecendo que recebi algo, que me ajuda, que me posiciona perante Deus e o mundo, que me alenta na esperança, a que posso chamar fé?
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