Acreditar será somente aceitar?!
Há muitas realidades que aceito (não há outra solução, por vezes) no mundo, mas nas quais não acredito...
Realidades menos agradáveis, que sei que existem, que não posso, só por mim, modificar ou corrigir, mas nas quais me recuso a acreditar, por pensar que não são, de longe, o melhor para a Humanidade, por saber que somos capazes de tão melhor... Como afirmava proverbialmente São Paulo, expressando o pensamento de que procuramos o bem, mas é o mal que alcançamos, que vamos realizando...
Então, a própria lógica humana diz-me que acreditar vai além do aceitar somente...
Por exemplo, até numa conversa de amigos, aceitamos que alguém nos conte algo, por mais extraordinário que seja, aceitamos sem contradizer o nosso interlocutor, sem que no entanto sejamos obrigados a acreditar naquilo que nos é contado...
Acreditar torna-se então o procurar constantemente tornar realidade, fazer presente e vivo aquilo que se diz, que se proclama... Tornar vivo, no sentido de dar vida às palavras, dar-lhes um significado além do semântico, significado que realmente significa mesmo algo para nós...
E foi esta descoberta de Fé, de uma Fé que não é apenas dita, mas vivida, que Jesus lançou como desafio aos que O seguiam, àqueles que escutavam as suas palavras, mas que tinham de as guardar, meditar, tornar suas próprias palavras, na forma de viver... Ouvir Jesus não era apenas um espectáculo cultural, um ouvir um contador de histórias, por mais belas ou mais cativantes que elas fossem... Era identificar-se com essas mesmas palavras, deixar que elas tivessem vida própria nas suas vidas... Talvez fosse esta mesma força que tanto atraía as multidões que O escutavam avidamente, que se deixavam prender pela autoridade com que Ele falava...
O «Segue-Me» lançado aos discípulos, não era seguido de um «apenas quando te for conveniente»... O «Quem tem ouvidos, oiça», nunca teve tanto significado para que tudo fosse guardado e meditado... O «Acreditas nisto?» dito a Marta, tinha a força de ser necessário para entender então que Ele pudesse ressuscitar o irmão Lázaro, não apenas naquele momento, mas também prefigurando a sua (e a nossa) ressurreição para a eternidade...
Dizemos: «Creio em um só Senhor Jesus Cristo...»... Mas será que temos consciência de que Ele é único e por isso mesmo presente hoje na vida de cada um de nós, como o foi na história de há dois mil anos atrás? Que as suas palavras hoje têm a mesma verdade no coração e na vida de cada um de nós, que as ouvimos, guardamos e meditamos? E que nos convidam a este mesmo torná-las realidade, e este mesmo vivê-las intensamente?
Nas palavras do Cardeal Martini, no seu mais recente livro «Colóquios nocturnos em Jerusalém. Sobre o risco de acreditar», para nós os cristãos, os que acreditamos que Jesus Cristo é o Senhor: «a entrega da vida não se pode explicar facilmente de uma forma racional. Essa entrega só é possível se se confiar nele»...
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